Psicologia das decisões, arquitetura da informação e dark patterns.
Quando você clica em um botão, desliza um controle ou preenche um formulário…
Você realmente escolheu fazer aquilo?
Ou a interface já havia decidido por você, através de posicionamento, cor, linguagem ou contexto?
🧠 Cérebro humano e tomada de decisão
O modelo dos dois sistemas (Daniel Kahneman)
- Sistema 1: Rápido, automático, inconsciente. Usa heurísticas, hábitos e emoções.
- Sistema 2: Lento, consciente, deliberado. Usa lógica e análise.
Designs eficazes interagem majoritariamente com o Sistema 1, que é preguiçoso e busca atalhos.
Isso faz com que pequenas decisões visuais tenham enorme influência sobre nossas ações.
🎨 Como o design molda escolhas
O layout, cores, texto e ordem dos elementos não são neutros. Eles criam:
- Foco visual: o que salta aos olhos é o que mais recebe cliques.
- Hierarquia de opções: o que parece “importante” ou “preferido”.
- Pressão temporal ou emocional: contagens regressivas, frases de urgência ou culpa.
📌 Exemplo real: Cancelar uma assinatura
Imagine dois botões:
-
Continuar minha assinatura
(grande, azul, central) -
Cancelar agora
(pequeno, cinza, no canto)
As duas ações existem, mas a interface não está pedindo uma escolha justa.
Ela está sugerindo fortemente qual é a “resposta certa”.
⚠️ Dark Patterns: influência mal-intencionada
Dark Patterns são padrões de design que enganam, manipulam ou forçam o usuário a fazer o que não quer.
Alguns tipos comuns:
Padrão | Descrição | Exemplo |
---|---|---|
Obfuscation | Esconder informações importantes | Custos adicionais só aparecem no checkout |
Confirmshaming | Culpar ou envergonhar | “Não, prefiro continuar sendo ignorante” |
Roach Motel | Fácil entrar, difícil sair | Assinar: 1 clique. Cancelar: 6 telas |
Forced Continuity | Testes gratuitos que viram cobranças | “Grátis por 7 dias”, mas cobram no 8º sem aviso |
Hidden Subscription | Assinatura escondida em uma ação banal | Marcar checkbox significa assinar uma newsletter paga |
📚 Fonte: Harry Brignull – deceptive.design (ex-darkpatterns.org)
🧠 Por que isso funciona?
Esses padrões exploram vieses cognitivos como:
- Efeito de ancoragem: a primeira opção molda sua referência.
- Efeito de escassez: “só restam 2!” aumenta o valor percebido.
- Custo afundado: já investi tempo aqui, não vou desistir agora.
- Evitação da perda: preferimos evitar perdas do que obter ganhos.
🧪 Estudo de caso: escolhas falsas no design
Um estudo de 2012 sobre formulários de doação online mostrou que mudar o texto de um botão de:
“Continuar”
para
“Continuar com doação de R$50”
Aumentou o número de doações em 17%.
A ação era a mesma — mas a linguagem guiou a decisão.
🧭 Interfaces éticas: como guiar sem manipular
Nem toda influência é ruim. Um design pode:
- Orientar usuários leigos com clareza
- Evitar erros comuns
- Promover boas práticas (como segurança)
✅ O segredo está na transparência, reversibilidade e respeito.
Boas práticas:
- Sempre mostrar todas as opções com destaque igual
- Evitar urgências falsas ou contagens regressivas enganosas
- Permitir desfazer ou revisar decisões
- Usar linguagem neutra, sem juízo de valor
💡 Conclusão
“Design não é apenas o que parece e o que se sente. Design é como funciona.”
— Steve Jobs
Mas como funciona… também influencia como decidimos.
Toda interface ensina, guia ou manipula.
Cabe a nós — designers, desenvolvedores, criadores — escolher qual tipo de influência queremos exercer.
🧠 Este é o post 7 da série Neurointerfaces: como o design conversa com o cérebro humano.
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